Entendendo o Ciclo Vida-Morte-Vida

Amanheceres cíclicos com manuelismos desnecessários

2 min read

Os desafios cíclicos da vida
Os desafios cíclicos da vida

Amanheceres cíclicos

Assim como o dia que envelhece do brilhante desútil Manoel de Barros, a vida traz amanheceres, tarderes, alvoreceres e anoiteceres. Assim são os ciclos vida - morte - vida por todo canto por onde vivem seres viventes.

Hoje, 08 de janeiro de 2025, quando finalizo este texto, no meu belíssimo país Brasil, temos esta data marcada com a restituição de obras de arte aos brasileiros. Mesmo àqueles que as vandalizaram, dois anos atrás, agora as recebem.

Brasileiro, brasilidades, jeito brasileiro. Tudo junto. Tudo isso misturado lindamente, tentando por alguns, ser apartado, destruído, despedaçado. E assim resistimos. E assim estamos aqui. E assim, apesar de, sorrimos.

Vamos sorrir.

Vamos nos manuelisar. Manuel de Barros nunca foi tão necessário para nossos corações desesperançados pelas agruras de um mundo em ebulição.

Eles passarão e nós, passarinho, sempre.

Podemos olhar nos olhos do ciclo vida - morte - vida com os olhinhos perspicazes de uma feiticeira e contadora de histórias, contos e outras coisas mais, muito peculiar: Clarissa Pinkola Estés.

Ela nos conta de maneiras muito peculiares e profundas sobre o ciclo vida-morte-vida como uma experiência fundamental que permeia a nossa existência: a vida se renova constantemente, refletindo as várias transições que enfrentamos - como em um espelho, ora de águas mágicas, ora de terra seca, ora de metal frio.

A vida, com suas alegrias e desafios, representa o início deste ciclo: vida início, início de vida.

É nesse estágio que construímos relações, desenvolvemos habilidades e buscamos a realização pessoal. Muitas vezes essa busca vai pra longe, vai pra fora, busca oásis e encontra desertos. No entanto, o ciclo não é apenas sobre viver; é também sobre a morte, ou, metaforicamente, sobre os aspectos que devemos deixar para trás para que novos começos possam florescer. Assim são os anoiteceres da vida, precedem os amanheceres, as auroras.

O que podemos deixar morrer? o fim de velhos hábitos, relações tóxicas e crenças que não nos servem mais? durezas, pobrezas, infelicidades em si e além?

E se abandonarmos a tão desejada "evolução pessoal" e encontrarmos o des-evoluir, o des-aprender, o deixar de ser, o des-ser, o que poderia ser então? Um novo ser, desatolado de saberes imprecisos, inconvenientes, forçados e sufocantes talvez.

Assim como em um dia cabe a aurora do amanhecer, o torpor aquecido pelo entardecer e o refrescar e relaxar-se no anoitecer, assim pode caber em nós o deixar, o des-ser, o buscar ser, novamente o deixar, para simplesmente, viver.

As certezas, as durezas, os medos sombrios que nos faz atacar até a nós mesmos e nossa brasilidade mais genuína, pode se afrouxar ao som de um rio ou de um passarinho. Por isso, tanta gana em nos tirar da beira do rio, dos risos soltos, da companhia dos passarinhos livres, da flores estonteantes e das nuvens de sonhos mirabolantes.

Por isso, precisam impor os cinzas sombrios, as paredes frias, o som metálico, o andar robótico, as casas com teto, com tudo.

Nos tiraram de uma casa engraçada que não tinha teto, não tinha nada, tinha tudo por fazer, sempre. Agora é tudo por ter, sempre e mais, mais tédio preenchido com vazios profundos.

O que morre em nós, quando fazem nascer necessidades supérfluas que nos distanciam da Vida e abandonamos as supérfluas e desnecessárias necessidades de Vida, de rio, de flor, de nuvem, de lua, de manga sabina, de nada?

Um beijo no coração,

Ana